Citações bíblicas ricas de ensinamentos são repetidas por milhares de bocas, em variadas situações. A sabedoria que delas emana é notória, muitas pessoas as usam e, assim, elas vão passando de geração a geração. Na maioria das vezes servem de pilares de sustentação para aconselhamentos e proporcionam revisão de valores para “quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir”.

       Muitas vezes, ao longo da caminhada, presenciamos certas situações e, imediatamente, sem conhecimento de causa,  alinhavamos uma história, colocando em julgamento os personagens envolvidos. Nesse contexto sempre haverá uma pessoa considerada culpada. Com o tempo a verdade aparece e o julgador descobre que estava redondamente enganado. Se compreender o recado, policiar a necessidade de julgar o próximo e trabalhar na reforma íntima, receberá aplausos. Caso contrário, irá passar pela vida olhando, julgando e condenando pessoas, sem misericórdia ou compaixão, com visão míope, limitada e retorcida.

       Agradeço à sempre sábia Mãe Natureza que mostrou um erro que eu havia cometido, induzindo-me a redobrar minha atenção para não efetuar mais julgamentos levianos.

       Moro nas Perdizes, um agradável bairro paulistano. De algum tempo para cá, as casas antigas passaram a ceder espaço aos edifícios. Havia na rua Turiaçu um casarão amarelo, rodeado de flores e diversas árvores. Passei por lá e vi caminhões entrando e saindo, vai e vem de trabalhadores e, pelo tamanho do terreno, dois ou três prédios poderiam ser construídos no local. Uma bela e frondosa árvore, junto ao muro de entrada, que fazia a alegria da passarada, estava sendo podada. Os galhos maiores eram serrados com cuidado e, vendo aquilo, fiquei feliz por perceber que ela seria poupada.

       Porém, alguns dias mais tarde a árvore estava completamente sem folhas. Enorme, esquálida, galhos vazios e tristes sem o verde que os enfeitava. O caule estava cinzento e morto.  Indignada pensei: – Colocaram remédio na árvore, para ela secar e com isso poderão cortá-la sem protestos, por ser medida saneadora. Insensíveis! Como isso é possível? Aquela certeza deixou-me inconformada. Comentei o fato com diversas amigas e fui veemente no julgamento e nas acusações.

       Depois de certo tempo passei por lá e fiquei deslumbrada. A árvore transformara-se num verdadeiro buquê preparado por Deus, para enfeitar a festa da Natureza. Descobri tratar-se de um lindo ipê que explodira em lindos cachos de flores, para ministrar-me extraordinária lição. Fiquei parada admirando a beleza e a elegância da árvore. Envergonhada, em prece pedi desculpas às pessoas desconhecidas que eu havia julgado, condenado e executado com tanto rigor. E prometi a mim mesma uma severa vigilância para não cometer mais injustiças semelhantes.

       Imediatamente lembrei-me de uma conhecida citação bíblica que está no Evangelho de Lucas 6 – 37: “Não julgueis, e não sereis julgados”.

       Julgar? Se possível, jamais!

       Mas sei também que todos nós, por mais bem intencionados que estejamos, sempre seremos passíveis de recaídas.

Sempre passíveis de recaídas.

Lamentavelmente…

                    São Paulo, 26 de agosto de 2021.